sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um pouco de historia


No dia 24 de outubro de 1955, Nora Ney gravou Ronda das Horas, o primeiro rock lançado no Brasil com letra em português. Essa música era uma versão de Rock Around the Clock, do grupo Bill Halley and His Comets, que naquele ano tinha feito sucesso em todo mundo por ser o tema de abertura do filme Blackboard Jungle, uma das primeiras tentativas hollywoodianas (o filme foi

produzido pela MGM) de criar ficções destinadas a um público "teenager".

A combinação pode parecer estranha: Nora Ney já era uma cantora consagrada, tendo sido eleita a Rainha do Rádio (o prêmio máximo que uma cantora brasileira da época podia receber) em 1953.

No mesmo ano que gravou Ronda das Horas, Nora Ney já tinha lançadosucessos como o samba Meu Lamento (de Ataulfo Alves e Jacó do Bandolim) e o samba-canção Se Eu Morresse Amanhã (de Antônio Maria).

Não se tratava, portanto, de nenhuma principiante usando um novo modismo

para se projetar. E o rock, em 1955, ainda não podia ser chamado de um modismo: era apenas uma novidade interessante, como o cha-cha-cha ou o twist.

O ecletismo fazia parte do repertório dos cantores e compositores brasileiros dos anos 50 e de toda a primeira metade do século XX. O compositor Ernesto Nazaré (1863-1934), por exemplo, tocava polcas, valsas, tangos e valsas de sua autoria. Mais adiante, a Rádio Nacional (a principal rádio

brasileira nos anos 40/50, com programação transmitida para todo o país), apesar de não usar discos e sim música ao vivo, não divulgava apenas ritmos "nacionais". O jornalista Ruy Castro, em seu livro Chega de Saudade (que conta a história da Bossa Nova), comenta: "Nem toda essa música era

brasileira na Rádio Nacional. Ao contrário: em quantidade de minutos no ar, a música internacional batia os sambas, choros e baiões (e mais Jararaca e Ratinho) por quase 3 a 1 - e olhe que as versões dos sucessos internacionais entravam na conta da música brasileira. Só Haroldo Barbosa fez mais

de seiscentas versões entre 1937 e 1948 [...] Com todos seus músicos especialistas em foxes, mambos, rumbas, tangos, valsas e boleros (tinha até um cowboy de araque, Bob Nelson, para cantar au-la-rê-is), é provável que a Rádio Nacional fosse a maior democracia rítmica do mundo." (Castro,

1990: 61)

No meio de tantos exotismos musicais, não foi nenhuma surpresa ouvir Nora Ney cantando um rock. Não havia o desejo de chocar o público com uma "rebeldia" (o rock, na época, ainda não havia ganhado o apelido de música rebelde), nem havia a preocupação de inventar uma música juvenil brasileira. O rock era um ritmo de sucesso a mais. Ronda das Horas freqüentou as paradas de discos mais vendidos no Brasil (havia uma outra versão brasileira dessa música, gravada pela cantora Heleninha Silveira), mas não gerou nenhuma "febre de rock". Nada indicava que o rock ia ter uma influência tão duradoura no panorama musical brasileiro a ponto de, nos anos 80, se

transformar numa das principais fontes de lucro da indústria de discos do país.

Por Marcelo (Metal)

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